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Como melhorar o listening?

"Eu estava assistindo a um documentário sobre crocodilos na TV ontem à noite. Um dos entrevistados do programa era um guarda florestal australiano, que falava sobre a tentativa de controlar a população desses répteis em uma das regiões do país. O curioso é que ele foi legendado. Observe que ele falava inglês – com o sotaque típico australiano – e as legendas eram em inglês mesmo. Estranho? Ao longo desse artigo, você vai perceber que a situação não é tão esquista quanto parece a princípio."

Defina expectativas reais

Antes mesmo de buscar atividades e soluções para que você melhore o seu listening, é importantíssimo definirmos expectativas realistas para que você tenha mais consciência sobre quais são os resultados práticos possíveis, dadas algumas dificuldades inerentes ao processo. A falta de tempo de exposição ao inglês falado é apenas a primeira e talvez a mais óbvia dessas limitações. Tendo definido expectativas reais, você reduz o risco de se frustar e até abandonar os estudos.

Referências irreais

Por falta de conhecimento teórico sobre aquisição linguística, não é raro o aluno que está aprendendo uma segunda língua comparar esse aprendizado com a única referência que possui, ou seja, o aprendizado da língua materna. Esse é apenas o primeiro de uma série de equívocos. Usar o aprendizado da língua materna como referência para o de uma língua estrangeira sem se levar em conta as inúmeras diferenças entre os dois processos é loucura. As idades – e consequentemente o estágio de maturidade – em que os dois acontecem são diferentes, o grau de exposição ao idioma materno é infinitamente superior ao do estrangeiro, as motivações são bem distintas, entre muitas outras diferenças. Muitas vezes, o aluno acredita que vai atingir o grau de conforto que tem ao ouvir o seu idioma materno, ou algo bastante próximo disso, ao ouvir o idioma estrangeiro. Essa é a receita perfeita para a desilusão.

Um português só – ou quase isso

Quando foi a última vez que você conversou com um açoriano ou um transmontano? Esses são só dois exemplos de regiões em que se fala a língua portuguesa com um colorido especial. Açores e Trás-os-Montes são duas regiões de Portugal, conhecidas por apresentarem sotaques bem peculiares.

No Brasil, temos contato, quase que exclusivamente, com o português falado no Brasil. Além disso, na grande maioria dos casos, somente ao sotaque pasteurizado dos telejornais transmitidos em rede nacional. O mais próximo que algumas pessoas chegam ao regionalismo é o sotaque nordestino fake das telenovelas.

Sem querer entrar no mérito da questão nem debater suas razões sócio-econômicas que explicariam o fenômeno, na prática, os brasileiros estão, em sua maioria, expostos a um português só. Embora os produtos culturais que adotam outras variantes da língua portuguesa (filmes, música, documentários etc.) existam, eles não conseguem competir em pé de igualdade com os produtos de massa. O que é uma pena.

Em suma, o brasileiro ouve nos meios de comunicação o sotaque do português falado no Brasil sem grandes variações regionais. É evidente que há exceções que este texto não tem a pretensão de debater.

Várias línguas inglesas

A história muda totalmente quando falamos da língua inglesa. Você já sabe disso, mas é importante repetir: o inglês é falado como língua oficial em diversos países do mundo. Repita essa informação várias vezes para que seu cérebro se conscientize de que é impossível esperar que o seu grau de compreensão da língua inglesa se assemelhe ao da língua portuguesa. Não caia nessa armadilha para não se frustrar sem motivo.

Só para relembrar, temos o inglês falado como idioma oficial na América Central (Jamaica, Barbados etc.), na América do Norte (Estados Unidos e Canadá), na África (África do Sul, Gana, Nigéria etc.), na Europa (Inglaterra etc.), na Ásia (Índia etc.) e na Oceania (Austrália, Nova Zelândia etc.). São muitos os matizes que vão muito além do sotaque porque não podemos nos esquecer de que todas essas variantes trazem consigo referências culturais, históricas, geográficas etc. que, embora sejam elementos que denotam a riqueza contida na diversidade, representam obstáculos inegáveis à compreensão auditiva.

Lembra-se do guarda florestal do início do texto? Que idioma mesmo ele estava falando? Para que público? Repito: ele falava inglês – com sotaque australiano, é verdade – para telespectadores que liam a legenda em inglês! E que ouviam à narração do programa em inglês! Já vi matérias da CNN em que a legenda em inglês também aparecia em entrevistas realizadas em língua inglesa, por exemplo, na Irlanda e na Índia.

Vale lembrar que não são pessoas falando inglês como língua estrangeira. Eram nativos sendo legendados para que outros nativos de inglês pudessem entender! E você acha que vai entender tudo com duas aulinhas por semana?

Está entendendo o que eu quero dizer com expectativas surreais? Ok, talvez você não nutra essa esperança conscientemente, eu sei. Mas, inconscientemente, é esse grau de compreensão que você se impõe. Não é raro detectarmos essa expectativa por parte de pais, chefes e, em alguns casos, até mesmo dos próprios professores. Não seja vítima de sabotagem – a sua própria ou a imposta por terceiros!

Conclusões

Faça um esforço consciente para não se cobrar tanto. Não há como entender 100% dos diálogos de filmes repletos de gírias e expressões idiomáticas características de determinados grupos. Uma interação entre dois traficantes, dois policiais ou uma entre um traficante e um policial traz elementos muitas vezes desconhecidos da maioria das pessoas. O que dizer então dos filmes de época, do linguajar de membros de gangues, de obras de ficção científica, comédias, entre muitos outros gêneros? O mesmo se aplica ao universo musical. E não estou apenas me referindo ao rap e ao reggae, é claro!

Resumindo, baixe a bola e seja feliz!

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